Na tarde da sexta-feira, dia 18, planejei resolver três pequenas
pendências, sem cansar muito o esqueleto. Na Rua José Clóvis de Castro,
esquina com a Cursino, pensei em passar na biblioteca. A poucos metros
na mesma rua, pegar um atestado no 413º Cartório Eleitoral. No
logradouro paralelo, a Rua Domingos de Rogatis, tomar a vacina
antigripal, na UBS Neusa Rosália Morales. O prazo final, adiado diversas
vezes, expirou no dia 14 — segundo informações na imprensa.
A mão do destino me ofereceu duas alternativas: as obrigações primeiro,
e depois a distração. Irresponsavelmente, optei pela segunda. Na
confluência das avenidas Bosque da Saúde e Cursino, encontrei velhos
amigos de trabalho, que me "intimaram sob coação", a relembrar nossas
antigas confraternizações nos anos 90. Fomos tomar um chope, devidamente
acompanhado de tilápias fritas e cubinhos de queijo provolone à
milanesa. O proprietário do estabelecimento, ex-componente daquele nosso
grupo, preparou estes petiscos pré-encomendados e atualmente, fora do
cardápio. Hilário, comeu e bebeu mais do que nós.
Era o nosso clube do Bolinha, composto só de marmanjos. Assuntos em
pauta? Reminiscências e logicamente, referências elogiosas às nossas
mulheres — segundo dizia sabiamente John Lennon, "a mulher é a outra
metade do céu". Ainda sob os efeitos recentes e traumáticos da Copa,
irreversível e fatalmente, a conversa culminou em lamentos e análises de
estratégias não aplicadas. Um balanço geral que me inspirou a comentar
tais amenidades, dignas de aliviar as dores do mundo.
Com o perdão das obviedades e tolices, tudo já pertence ao passado.
Dívidas e problemas pré-existentes à Copa são os mesmos de sempre, e a
vida seguirá seu cotidiano. Por um capricho futebolístico, o Brasil
derrapou para a 7ª colocação no ranking da FIFA — de triste memória, o
fatídico sete, o numeral cabalístico e daquele... placar! Então, vamos
fechar a conta e nossa "derradeira análise" do campeonato mundial em
2014. Aliás, ironicamente, a soma destes números, resulta em 7.
Uma andorinha só não faz verão ou seria... um Neymar só não faz a
seleção? Muitos, palpiteiros como nós, têm uma visão míope e opinião de
leigos, no chamado esporte bretão. Certamente, divergente da maioria dos
especialistas em futebol. Mas, concluímos que, para realizar
estripulias e malabarismos com a bola, tripudiar sobre equipes de
reduzida capacidade técnica, até o Zé Coalhada do Arranca Toco Futebol
Clube conseguiria. Popularmente falando: "encheram a bola" de jogadores
limitados e comuns.
Na fase preparatória, a CBF organizou alguns amistosos contra seleções
inexpressivas ou inofensivas e, as previsíveis vitórias, projetaram uma
ilusória impressão de que tudo estava bem, e o hexacampeonato já era
nosso. Como diria o insuperável e saudoso craque, Mané Garrincha, só
esquecemos de combinar com os adversários. E pensar que praticávamos o
melhor futebol do planeta bola — um parâmetro para o mundo. Após o
tsunami germânico em terras mineiras, “oxalá” o brasiliense estádio Mané
Garrincha não seja doravante, a denominação de um elefante branco. Para
os bons entendedores, um risco quer dizer Francisco.
Vamos ponderar que, à exceção de uns 3 ou 4 jogadores residentes no
país, tínhamos na verdade, um agrupamento de "estrangeiros" brasileiros —
alguns, indicados no exterior por olheiros. Em campo, foi flagrante a
apatia, a falta de empenho e entrosamento; não demonstraram quaisquer
resquícios da antiga garra e amor à camisa da seleção. Sediar a Copa nos
dispensou da fase eliminatória, onde as deficiências teriam que ser
corrigidas, sob o risco da não classificação para o certame mundial.
Pouco entendemos de táticas futebolísticas. No entanto, pensamos nestes
convocados atuando em seus clubes, seguindo os rígidos e aplicados
padrões europeus. Em nosso país, foram instruídos a jogar, no
ultrapassado e retrógrado, esquema do Brasil. Será que erramos em não
convertê-los ao sistema moderno e produtivo de jogar futebol? Terá sido
este o ponto fora da curva?
Na fase “vexamitória”, deu no que deu. Nunca "antes neste país", se
destinou tal montante financeiro, ou disponibilizados tantos recursos
para a confortável e luxuosa preparação da equipe. A quarta colocação —
também conhecida como terceira entre os últimos —, rendeu à CBF a módica
quantia de 43 milhões de reais. Para cada membro da delegação, foram
contabilizados míseros 800 mil, que certamente não causaram "chororô" em
ninguém.
Se não fizerem questão da "pequena" premiação, abdiquem de uma parte e
pratiquem a benemerência. Recomendo a AACD ou APAE, entre outras
instituições. Qualquer auxílio será bendito e bem-vindo. Os alemães
contribuíram com 30 mil, para a aquisição de uma ambulância, que
beneficiará a tribo dos índios pataxós; para a comunidade da
pequeníssima Santo André em Santa Cruz Cabrália — onde se celebrou a 1ª
missa no Brasil —; doaram verba para reformar a escola local e deixaram o
Campo Bahia, utilizado para os seus treinamentos. Embora modesto
legado, é isto, simples assim. Afinal, segundo a sabedoria popular, dinheiro não aceita desaforos,
caixão não tem gavetas e há muitos "pobres" que só têm dinheiro... nada
mais!